Fernanda Torres fala de sua vida com as drogas

 Entrevista com Fernanda Torres

Transcrevemos trechos de entrevista da atriz Fernanda Torres a Eliane Lobato, da revista IstoÉ. A atriz está se recuperando da dependência das drogas.  

“Agora posso falar sobre drogas”

Longe do vício e sem medo de racaídas, a atriz abre o jogo sobre a sua experiência com cocaína e diz que hoje os antidepressivos viraram moda

A atriz Fernanda Torres está fazendo a sua estréia como autora de teatro com a peça “Deus é Química”, em cartaz no Rio de Janeiro. Trata-se de uma corajosa abordagem sobre o uso de drogas e de antidepressivos que termina fornecendo o número de telefone dos Narcóticos Anônimos. Aos 43 anos, Fernandinha – como é conhecida a filha dos atores Fernanda Montenegro e Fernando Torres – encara no espetáculo um tema que conhece bem. Nessa entrevista ela conta que usou drogas durantes anos – em especial, a cocaína, que considera “o pior demônio”.

ISTOÉ – Sua peça faz uma crítica severa às drogas. 
Fernanda – Não sei, acho que não. Acho que critica severamente o uso de antidepressivos, a droga da felicidade. Faz uma crítica feroz à cocaína, mas, ao mesmo tempo, fala que as pessoas sempre se drogaram, bebendo, fumando. Nós estávamos em dúvida se a peça seria vista como crítica ou apologia porque resgata a ideia dos anos 60, quando as drogas eram um caminho para o autoconhecimento. O lema era “Seja Marginal, Seja Herói” (obra do artista plástico Hélio Oiticica). O mito do marginal, do revolucionário, era encantador. Eu cresci nessa época. A direita estava no poder e nós tínhamos de fazer o oposto da direita, por princípio. Nas escolas experimentais, onde eu estudava, o refrão era liberdade para tudo. Hoje ficou diferente.

ISTOÉ – Como é hoje?
 Fernanda - Hoje todo mundo é deprimido. Se você tem uma tristeza, logo aparece alguém para aconselhar a tomar um remedinho para ficar bem, para não ficar ansioso. É a geração do Rivotril (tranquilizante). É remédio para regular humor, combater tristeza, emagrecer. Uma vez tomei um emagrecedor e falei: gente, desculpa, mas isso é igual à cocaína. Primeiro, eu fiquei com palpitação no coração e, depois, meio deprimidinha. Fiquei sem fome e excitada e, depois, muito angustiada. Já vi isso antes, só que tinha outro nome: cocaína. Antigamente, todo mundo fazia análise, hoje a psicanálise perdeu para a psiquiatria. Todo mundo tem um psiquiatra, é bipolar, e toda criança é hiperativa. Impressonante. Deve haver outra maneira de resolver nossos problemas que não seja tomando remedinhos, né? Isso eu acho muito sinistro. Marca o nosso tempo.

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